Para entender a prática do humor crítico, buscamos reflexões teóricas sobre a
exploração do riso nas sátiras feitas à sociedade. Aristóteles dizia que a alegria induzida por zombaria é sempre uma expressão de desprezo, pois entre as origens do prazer estão as ações, os ditos e as pessoas ridículas. Depois, os estudos de Henri Bergson (1859) sobre o riso como escracho, aquele que começa quando termina a comoção, pois neste caso, o riso embute o sentido de humilhar alguém. E, finalmente, os estudos de Georges Minois (2003), autor que define o riso e o escárnio como “o irônico, o individualidade genial, que consiste no auto-aniquilamento de tudo que é soberano, grande e nobre”. Em seu trabalho, História do Riso e do Escárnio (2003,p. 19-20) revela que o riso esconde o seu mistério, às vezes, agressivo, sarcástico, angélico, tomando as formas da ironia, do humor, do burlesco e do grotesco. O riso é multiforme e ambíguo: expressa tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso, o orgulho ou a simpatia.
Com base nesses estudos, podemos dizer que o riso provocado com a leitura da charge
constitui-se na sátira a pessoas simples e famosas, representantes políticos, fatos e
acontecimentos sociais servindo ao mesmo tempo para afirmar e para subverter.
O ideológico na charge seja da empresa jornalística, do chargista ou
de ambos, nem sempre está explícito. Muitas vezes, de fato, o riso concorre para o
mascaramento da intenção ideológica, limitando ao leitor, apenas, a percepção do risível. As
charges, como conhecemos hoje, são herdeiras do jornalismo ilustrado surgido na Inglaterra e
na França dos séculos XVII e XIII, têm suas raízes igualmente fincadas na iconografia da
Idade Média, quando surgíramos primeiros gráficos caricaturais de humor.
Romualdo (2000, p. 50) mostra que uma das características da charge é a polifonia,
um jogo de vozes contrastantes, provocador do riso. Outro aspecto importante é que, na
construção interna da charge, o autor informa e também opina sobre um tema, parafraseandoo
ou parodiando-o por meio da representação de um “mundo às avessas”, satirizado pela
própria inversão de valores sociais, oferecendo ao interlocutor uma visão crítica da realidade.
A charge jornalística atrai o leitor, pois, enquanto imagem, é de rápida leitura,
transmitindo múltiplas informações e de forma condensada. Além disso, esse gênero
polifônico e envolvente diferencia-se dos demais gêneros opinativos por fazer sua crítica
usando constantemente o humor, provocando o riso de zombaria, mais precisamente um riso
carnavalesco sobre a nossa triste atualidade sócio-político-econômica.
Nas sociedades contemporâneas, o poder político se concentra na disputa entre
representações do mundo social, que procuram se investir de veracidade e legitimidade. A
mídia exerce um papel importante na democracia, oferece a visibilidade da imagem política,
mas também impõe obstáculos, sem pluralidade na estruturação de seus conteúdos, pois
veicula aquilo que convém ao monopólio midiático. A disputa pela veiculação da imagem
ganha maior amplitude nos períodos pré-eleitorais. Em nossa sociedade, assim como em
outras, há uma relação estreita entre as corporações midiáticas e os representantes políticos.
O estudo dos gêneros do discurso é fundamental na escola, visto que, segundo
Schneuwly e Dolz, ele é utilizado como meio de articulação entre as práticas sociais e os
objetivos escolares, mais particularmente, no domínio do ensino da produção de textos orais e
escritos.
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